27.11.1933 | Alcoolismo subagudo com pulso normal ou retardado: coexistência da síndrome de automatismo mental

[ Alcoolisme subaigu à pouls normal ou ralenti. Coexistence du syndrome d’automatisme mental ]

Comunicação realizada por Georges Heuyer [1884-1977] e Jacques Lacan [1901-1980], em 27 de novembro de 1933, junto à Sociedade Médico-Psicológica de Paris.

Les Annales Médico-Psychologiques, 1933, vol. 2, n. 4, pp. 531-546.

Os autores das primeiras descrições do delírio subagudo alcoólico notaram suas múltiplas variedades de formas. Lasègue,[1] que descreveu o delírio das perseguições[2] e o delírio alcoólico subagudo,[3] reuniu as oposições semiológicas entre essas duas entidades mórbidas novas com as quais dotou a psiquiatria. Ele considera os casos em que a clínica exibe uma mistura dos traços característicos de cada uma das formas como fatos de associação mórbida, em que a suspensão do tóxico faz facilmente com que se reencontre o delírio de perseguição permanente e puro. Todavia, nas observações de delírio alcoólico subagudo que ele relata, percebe-se que em algumas delas[4] predominam as alucinações auditivas verbais; que a agitação motora correlativa à extrema mobilidade das alucinações visuais é menor; que a ansiedade não é tão viva; que o delírio assume uma forma de ameaça menos imediatamente iminente e mais parece uma tentativa de demonstração razoada e sistemática.

Esses casos de delírio subagudo fazem parte das próprias características que Lasègue atribuiu ao “delírio das perseguições”.

Magnan[5] retomou, nos mesmos termos que Lasègue, a oposição dos dois termos clínicos. Em seu memorial sobre o alcoolismo para o Prêmio Civrieux,[6] em 1872, ele precisa as características próprias às alucinações do delírio subagudo.[7] Define-as como fastidiosas, móveis, tendo como objeto as ocupações ordinárias e as preocupações dominantes do doente; analisa sua grande variedade sensorial, mas pouco insiste acerca das alucinações auditivas — que seriam, segundo ele, sensações acústicas simples antes de se tornarem alucinações verbais. Com o auxílio de uma frase do próprio Lasègue, ele opõe a mobilidade desse delírio à estereotipia do delírio crônico. Mas a classificação evolutiva que ele faz dos delírios subagudos leva-o a agrupar “certos doentes predispostos, acometidos por delírio alcoólico, com recaídas frequentes e convalescência muitas vezes entravada por ideias delirantes, afetando mais ou menos a forma do delírio parcial”. Os casos que ele cita distinguem-se (532) pela predominância das alucinações auditivas verbais e das interpretações delirantes, no sentido moderno do termo.

Insistimos nesses pontos históricos para mostrar como, desde o início, colocou-se a questão do terreno para a eclosão de certas formas especiais do delírio subagudo tóxico.

Não vamos entrar na história das inúmeras pesquisas que essa questão suscitou. Trata-se sobretudo de estudos fisiológicos que tendem a precisar o terreno neurovegetativo. Queremos trazer aqui apenas a contribuição de um simples fato clínico. Sua constatação nos foi facilitada pela precisão trazida, na pesquisa das alucinações auditivas verbais, pela dita síndrome de automatismo mental. Foi a pesquisa metódica dos diversos elementos dessa síndrome que nos permitiu isolar um grupo de casos que responde a uma individualidade pressentida e indicada por Lasègue e por Magnan, e cujas características veremos. Em algumas observações de alcoolismo subagudo, encontramos um pulso normal ou retardado, cuja correlação clínica com alguns elementos da síndrome de automatismo mental nos parece totalmente importante como valor prognóstico e como significação patogênica. Nas descrições que são feitas do alcoolismo subagudo, ou delirium tremens,[8] é clássico descrever a aceleração do pulso; esse sintoma, mais ainda que o tremor, é um elemento importante do prognóstico vital. Porém, num determinado número de observações que um de nós pôde fazer por muitos anos na Enfermaria Especial do Comando de Polícia,[9] alguns alcoólicos subagudos apresentavam pulso normal ou retardado, ao mesmo tempo que existiam alucinações auditivas, e por vezes, uma síndrome completa de automatismo mental, com um mínimo de alucinações visuais. Relataremos, primeiro, as nossas observações que permitirão evidenciar os fatos clínicos essenciais.

Classificamos nossas observações em três grupos. Num primeiro grupo, trata-se de formas subagudas reais que terminaram em cura. Num segundo grupo, trata-se de doentes que evoluíram ulteriormente para um delírio crônico de perseguição. Por fim, num terceiro grupo, o alcoolismo apenas conferiu uma nova coloração a um desequilíbrio que já existia anteriormente.

(533) OBSERVAÇÃO I. – Maurice K., 40 anos, internado por um de nós em 4 de fevereiro de 1932, com o seguinte laudo:

Enfermaria Especial, 4 de fevereiro 1932.
Alcoolismo crônico. Ideias delirantes de perseguição. Alucinações auditivas muito ativas. Escuta vozes através das paredes. Injúrias. Ameaças. Proposições obscenas. Eco dos atos e das leituras. Interpretações: foi intoxicado ccom cocaína. Meio erótico empregado para intoxicá-lo. Bando de inimigos que ele conhece e que, por intermédio de “Ripa”, quer dar um sumiço nele. Sem confusão. Sem onirismo visual. Foi espontaneamente prestar queixa na delegacia de polícia. Pele quente e úmida. Tremor digital e lingual. Tendência à miose. Pulso 72. Excesso de bebida (3 litros, mais aperitivos e cafés com licor). Obesidade. Início há 3 semanas.

Ass.: Dr. Heuyer.

Aqui, o laudo de entrada emitido em Sainte-Anne[10] e em Villejuif:[11]

Entrada, Manicômio de Sainte-Anne, 5 de fevereiro de 1932:
Acometido de alcoolismo com alucinações fastidiosas e ideias de perseguição, excitação passageira e pedido de socorro na delegacia, insônia.

Ass.: Dr. Simon.[12]

Entrada, Manicômio de Villejuif, 7 de fevereiro de 1932:
Alcoolismo crônico. Episódio subagudo recente. Corrige atualmente o seu delírio e reconhece a sua origem. A ser mantido em internação provisória.

Ass.: Dr. Maurice Ducosté.[13]

Alguns dias depois de sua entrada no Manicômio de Villejuif, um de nós o examina, com a autorização do Dr. Ducosté. Ele se encontra na presença de um sujeito um pouco obeso, que responde com precisão às perguntas e parece ter reduzido em parte as suas crenças delirantes.

Todavia, observa-se certa mímica ansiosa, fórmulas de perplexidade, modificações do tom da voz quando fala de seu delírio recente.

Havia dado entrada, diz ele, em 31 de janeiro de 1932 no Hospital Tenon,[14] e só conseguiu ficar quatro dias por causa de sua agitação.

Fazia dez dias que escutava vozes. Elas lhe diziam: “Você vai morrer, seu imundo”, e então: “indecências, sacanagens: Vai se f… !”. “Tinha a impressão de que queriam me matar”.

Há um diálogo entre as vozes hostis e outras vozes favoráveis: “Você vai morrer sifilítico num hospital”. Ao que outras (534) vozes respondem: “Vem com a gente: é uma pena te deixar morrer assim. Você vai ter dinheiro”. As próprias vozes hostis reconhecem a injustiça da sina dele: “Você foi corajoso e trabalhador; é uma pena, mas você vai morrer”. Outras vezes, elas o ficam tentando: “Entre para a nossa sociedade. A gente vai te dar 6.000 francos”.

O elemento de iminência ansiosa próprio ao tóxico alcoólico aparece no conteúdo das palavras que marcam os intervalos de tempo próximos da ameaça: “Você vai estar morto amanhã de manhã…, às 9 horas, vou te matar”.

Essas vozes eram sussurradas. No entanto, reconhecia os seus interlocutores, eram dois vizinhos dele: Trub…, com que havia tomado “umazinhas”, e Bout… Das palavras de encorajamento e dos sinais de compaixão, quem se encarregava era “a mulher de Trub…”.

Os sutis fenômenos do automatismo mental não estavam ausentes da síndrome. Será que ele pensava na mulher dele? “Ele pensa na mulher dele”, diziam as vozes. Na filha dele? “Ele pensa na filha dele”. De igual maneira, os seus atos eram comentados. Se assumisse uma postura indiferente em relação aos inoportunos, escutava o seguinte: “Ele é esperto; ele lê o jornal dele”. Esse jornal, atrás do qual ele se refugiava, “era lido em voz alta ao mesmo tempo que ele o lia no hospital”.

Nota-se a percepção de maus cheiros sem verdadeira convicção delirante. Por outro lado, as vertigens, as contrações que experimenta, lhe haviam feito acreditar que estava envenenado: “Me veio à cabeça que era cocaína”.

Havia uma estreita intricação desses fenômenos alucinatórios com as interpretações. Se imputou uma grande parcela desses fenômenos aos seus vizinhos de leito no hospital, justamente em razão dessa vizinhança (“eles fingiam um barulho de arma”), compreendeu bem o sentido simbólico de algumas das atitudes deles: “Me fizeram entender que era um bando de gente ruim”.

A insônia existia há vários meses, assim como os pesadelos que se relacionavam com o “seu trabalho ou com algo que não estava indo bem”. Ele sentia espasmos, câimbras.

Operador de torno e válvulas, o sujeito entregou-se ao alcoolismo depois da morte da mulher, que ocorrera há pouco menos de um mês. Três litros de “vinho meia-boca” por dia, reforçado com inúmeras “doses” à noite (Byrrh, Turin e Mandarin), constituíram sua dieta desde então.

Antecedentes. – A mulher morreu de tuberculose. Um filho morreu com 4 dias, tem uma filha saudável. Teve uma icterícia em 1918 e gripe em 1932. Atualmente, está com a barriga um pouco grande, o fígado grande, um pouco de (535) tremor. Suas pupilas são desiguais, D>E; reagem bem à luz. O pulso está em 80. Está bem orientado.

Sai do manicômio em 3 de março de 1933 considerado curado. Não foi observado desde então.

OBSERVAÇÃO II. – Eis aqui uma outra observação, talvez menos típica, na qual a síndrome tem uma evolução mais lenta, constituiu um episódio isolado, sem recidiva, e terminou em cura.

Henri N., motorista, 36 anos. Internado por um de nós em 14 de junho de 1931:

Alcoolismo crônico, ataques subagudos, estado confusional. Amnésia. Desorientação. Obtusão.[15] Onirismo. Perseguição por três indivíduos, dois homens e uma mulher, que o vigiam por um buraco no teto; estão armados e o ameaçam. Alucinações auditivas. Calma exposição dos fatos. Poucos elementos visuais. Demanda espontânea de proteção aos agentes. Congestão cefálica. Tremor lingual e digital. Pulso 64.

Ass.: Dr. Heuyer.

Um de nós o atende em Sainte-Anne e se encontra na presença de um sujeito que já não está desorientado, mas permanece marcado por uma nítida obtusão intelectual. O tipo do delírio é onírico, com ráptus de fuga, que é a origem de uma série de migrações domiciliares. Não obstante, é muito preciso acerca das alucinações auditivas; ele as interpreta. “Queriam fazer com que saísse do quarto para alugá-lo por um preço mais alto”.

O etilismo é antigo e foi reforçado por um desemprego recente.

O sujeito escreve ao Chefe do Comando de Polícia para protestar contra a internação. A redução das alucinações auditivas foi rápida, mas em setembro do mesmo ano, constatamos a persistência da convicção delirante, dirigida contra a senhoria do seu hotel. Um ano depois da internação, um de nós torna a atendê-lo em Ville-Évrard.[16] A convicção delirante está reduzida. O doente trabalha e é bem avaliado. Está bem orientado, mas conserva certa bradipsiquia. Ainda possui uma coloração subictérica e um tremor digital e lingual. Seu pulso está em 56.

Ele sai em julho desse segundo ano de internação e seis meses depois recupera sua carteira de habilitação.

OBSERVAÇÃO III. – Gelino F., 31 anos, internado em 14 de março de 1932 por:

Alcoolismo crônico. Confusão leve. Orientação imperfeita. Automatismo mental. Alucinações auditivas. Vozes de debaixo do piso. Controle e eco do pensamento e dos atos. Alucinações psicomotoras. Pensamentos alheios. Distúrbios cenestésicos. Espasmos “neurostênicos”. Mínimo de interpretações. Um jovem (536) amigo seu parece ser a causa. Sem sistema de perseguição. Ansiedade. Medo de ser guilhotinado. Marcha automática, pés descalços, no meio da rua. Confessa excesso de bebida (vinho, aperitivos, aguardente). Tremor digital e lingual. Pesadelos zoopsíquicos. Pulso: 72.

Transferido para a Itália.

Notamos, no limite desses delírios subagudos, em que o automatismo mental existe ao menos na forma de alucinações auditivas, delírios com predominância interpretativa que são, eles próprios, correlatos de um pulso retardado.

OBSERVAÇÃO IV. – Dim. P., jornaleiro, 40 anos, internado em 13 de junho de 1931, com o seguinte laudo:

Ideias delirantes de perseguição. Interpretações mórbidas. Há três anos, é seguido pela polícia. Avisam dos seus passos por toda parte. Quando ele quer trabalhar, o chefe é avisado. Probabilidade de alucinações auditivas. Escuta vozes com injúrias, alusões. Provável onirismo. Perseguição por indivíduos na rua. Ele os vê afiando as suas facas. Pesadelos. Sonhos de premonição. Preso por ter jogado uma pedra na fachada do jornal Le Matin [A Manhã]. Alcoolismo crônico. Rosto vultuoso.[17] Tremor digital e lingual. Confusão leve. Pulso: 64. Sífilis. Cancro em 1919. Algumas injeções intravenosas.
Sem sinais neurológicos.
Começo de leucoplasia comissural. Ex-legionário.

Ass.: Dr. Heuyer.

Mantido em internação há um ano por persistência das ideias de perseguição. Diz-se perseguido pela polícia e acusado de espionagem. Já teria estado internado em Marselha três anos atrás.

II

Relataremos agora observações em que a questão do terreno é colocada, seja pela nota especial das reações, seja pelas recidivas do delírio, seja por sua evolução para a cronicidade. Nessa série de observações, há ainda coexistência de alucinações auditivas verbais e de um pulso lento, mas diversos elementos permitem fazer com que se leve em conta a noção de um terreno particular.

Relataremos, primeiro, observações que uma nota melancólica com ideias de autoacusação, e frequentemente uma reação suicida, caracteriza.

As recidivas da intoxicação são frequentes e reproduzem-se com a mesma nota depressiva. A hereditariedade parece muitas vezes estar envolvida e transições para a cronicidade são encontradas.

(537) OBSERVAÇÃO V. – Pierre-François B. se apresenta no dia 7 de janeiro de 1931 à delegacia de polícia da sua comuna e acusa-se de ter cometido uma dezena de estupros e atentados ao pudor. Ele é enviado para a Enfermaria. É internado por um de nós com o seguinte laudo:

Pierre-François B., 24 anos, encanador-telhadista.
Alcoolismo crônico. Ataques subagudos. Estado confusional leve. Distúrbios da memória. Perseguido por um bando de ciganos que entram em sua casa, esperam por ele à porta, dão tiros de revólver; eles o levaram para a caravana e furaram-lhe o rosto. Na casa dele, colocaram um véu numa parede, uma espécie de tela sobre a qual desfilavam homens e mulheres. Alucinações  visuais  coloridas:  roupas azuis, verdes, amarelas. Alucinações auditivas. T.S.F.[18] Injúrias. Acusações de ter estuprado garotas, de ter engravidado algumas delas. Reação depressiva. Apresentou-se espontaneamente à delegacia acusando-se de estupros e atentados ao pudor. Intenção suicida. Cartas para os pais. Atualmente, narração de uma tentativa de suicídio inexistente, produção onírica. Rosto vultuoso. Tremor digital e lingual. Pulso: 76. Hereditariedade alcoólica: pai morto aos 52 anos de delirium tremens.

Ass.: Dr. Heuyer.

Internado em Sainte-Anne com o seguinte laudo:

Acometido de alcoolismo com ataques subagudos. Alucinações múltiplas e fastidiosas.
Pavores e tendências suicidas. Insônias, atordoamentos e tremor das mãos.

Ass.: Dr. Simon.

É caracterizado no serviço como alguém que sofre de alucinações e perseguições. O laudo quinzenal, de 22 de janeiro de 1931, caracteriza a diminuição dos ataques subagudos. O laudo de saída, de 31 de março de 1931, declara o doente “atualmente calmo, não parece mais apresentar delírio, trabalha regularmente e pode ser restituído à mãe que o reivindica”.

É internado compulsoriamente de novo em 18 de fevereiro de 1932 com o seguinte laudo:

Degenerescência. Alcoolismo. Distúrbios predominantes do humor e do comportamento. Embriaguezes subintrantes[19]. Obtusão moral. Negações cínicas. Violências contra a mãe inválida (contusões múltiplas recentes). Preguiça mórbida. Instabilidade. Tirania familiar. Sujeito para manicômios especiais. Pai, morte etílica. Mãe, débil.

Ass.: Dr. De Clérambault.[20]

O sujeito, que um de nós examina em 3 de abril de 1932, é um débil mental; encanador-telhadista, amputado da perna esquerda após um acidente, estava desempregado desde a última alta do manicômio. Empregado como cantoneiro em sua comuna, “ofereciam-lhe (538) bebida”. A mãe, trepanada após um acidente de automóvel, tornou-se inválida sem indenização; irritadiça, discutia frequentemente com ele. O sujeito confessa as violências às quais ele se entregou nessas disputas.

Emotividade. Instabilidade do pulso. Tremor. Atual redução das convicções delirantes. Mantido em internação, não obstante, em razão da particular situação familiar. Fígado ligeiramente transbordante.

Quando da sua primeira passagem por Sainte-Anne, observava que todo o mundo lhe queria mal. Caçoavam dele. Os fenômenos de automatismo mental desapareceram por completo.

OBSERVAÇÃO VI. – Pierre M., 41 anos, internado em 21 de novembro de 1931 com o seguinte laudo:

Alcoolismo crônico. Ideias delirantes de perseguição. É vítima dos vizinhos, que querem perturbar sua família. Automatismo mental. Alucinações auditivas. Injúrias a ele próprio e à mulher. Comentários dos atos. Controle do pensamento. Sentimento de estranheza, de perplexidade. Imprecisão das ideias delirantes. Obnubilação. Desordem dos atos. Fugas. Tentativa de suicídio coletivo (abriu a torneira de gás do imóvel). Confessa excesso de bebida. Tremor digital e lingual. Pulso: 64.

Ass.: Dr. Heuyer.

O laudo de entrada em Sainte-Anne insiste em

um ligeiro estado de confusão mental com ideias de perseguição. Interpretações, tendências melancólicas. Hábito de beber.

Ass.: Dr. Simon.

O sujeito é mantido internado em Vaucluse[21] pelo seu estado de depressão, com ideias de perseguição, reticências etc.

OBSERVAÇÃO VII. – Antoinette T., mulher R., 37 anos, internada em 20 de março de 1931 com o seguinte laudo:

Automatismo mental com início recente e brusco. Alucinações auditivas. Todos os objetos falam ao redor dela: os relógios, o fogão, um motor, até a água. Injúrias das pessoas “que cruzam com ela”. Eco do pensamento. Escuta “por toda parte” tudo o que ela diz e tudo o que ela faz. Falam, sobretudo, de seu passado um pouco atribulado. Andou pelo meretrício. Prostituiu-se. Dizem: “Você vai voltar pro buraco de onde veio”, onde estava “empregada”. Um pouco de confusão. Desorientação. Reações depressivas e ansiosas. Foi prestar queixa na delegacia de polícia espontaneamente. Tentativas de suicídio na Enfermaria. Tom queixoso. Nenhuma sistematização. Fundo de debilidade mental. Obesidade. Aspecto disendócrino.[22] Alcoolismo crônico. Vinho e sobretudo álcool de menta. Tremor digital e lingual. Pulso: 72. Início dos distúrbios psíquicos há quadro dias.

Ass.: Dr. Heuyer.

(539) A doente foi espontaneamente prestar queixa na delegacia de polícia onde declarou que “a casa era mal-assombrada” e que ela mesma estava “imantada”; que “a água da sua lavanderia estava eletrificada”; que “palavras se inscreviam na sua tábua de lavar roupa”. “Todo mundo na rua diz que ela faz programa”. “Na casa, ninguém lhe diz nada; porém, quando está sozinha, escuta bem as pessoas sussurrando”. Ela anuncia, então, sua tentativa de suicídio.

Ao ingressar na Sainte-Anne,

nota-se um estado melancólico com alucinações fastidiosas e terrores; ela desperta em sobressalto e suando. Tentativa recente de suicídio: teria engolido grampos de cabelo e alfinetes. Leve tremor das mãos. Provável alcoolismo. Febre de 38°.

Ela é vista novamente por um de nós.

Nota-se a sua obesidade, o seu aspecto empastado, disendócrino. Diz-se bem regulada: sempre foi uma menina grande, diz ela, desde a infância.

Todas as minhas roupas na lavandeira me diziam: você vai voltar pro buraco de onde veio (bis); estão te esperando, os frangos.

Os relógios diziam: “Vai voltar pra Rua Boulay, vai voltar lá pra Rua Gessen”. Trata-se de um “bordel” onde ela “trabalhou” antes do casamento e onde teve dificuldades com a chefe. “Queriam-lhe mal porque ela não ia com os clientes de que ela não gostava”.

Tudo isso, senhor, começou de repente, numa manhã em que estava fazendo faxina, com uma máquina, uma espécie de motor que estava embaixo ou do lado; um motor que falava, que dizia: sua puta, você vai voltar a encher a cara.

Todo mundo disse, pergunte para todo mundo; todo mundo disse que eu era uma puta, que eu fazia programa.

Todas essas declarações são entrecortadas por desvios, queixas, cuja corrente é difícil de romper para fazer com que ela responda perguntas precisas sobre os fenômenos sentidos.

As alucinações verbais parecem ser experimentadas, o mais das vezes, com base num ruído rítmico de origem externa e real. “O fogão também fala”. “Ela nunca conseguiu impedir que despertasse para o fato”. “A água também fala; no último dia, as cadeiras, tudo em que eu mexia, falava. Todo mundo fora repetia: “É ela, é ela”. “As pessoas com quem ela cruzava diziam: Ela gosta de ser fod…, vou provar pra vocês”.

Havia poucos fenômenos sutis, pouca ação sobre o pensamento; também não havia odores desagradáveis, gosto ruim ou gás. Ela não é violada, mas sente “espasmos elétricos, de noite, na cama, e também de dia”.

Três dias depois, ela renova suas declarações. Algumas interpretações são acrescentadas: “Todo o meu passado respingou por toda parte; Paris inteira, todo mundo olha para mim e fala disso”.

Nesse momento, fixa-se muito mais a sua atenção em questões precisas, mesmo na pesquisa dos testes mentais que praticamos. (540) Responde bem aos exames de julgamento elementar, é um pouco menos brilhante nos testes de abstração; aliás, ela só havia recebido uma instrução das mais rudimentares. Reconhece perguntas absurdas, repete corretamente cinco números de trás para frente. No entanto, é ligeiramente desorientada no tempo. Seu pulso está em 72. Apresenta um leve tremor dos dedos, transpiração. Os reflexos tendinosos são normais. As pupilas, ligeiramente desiguais, reagem.

O alcoolismo antigo, que data da época em que ela estava “no buraco”, antes do casamento, é confessado.

O alcoolismo atual, em sua forma tão particular (álcool de menta) é reconhecido até pelo marido, que quer reavê-la. O início muito brusco dos distúrbios é confirmado pelo círculo próximo.

Um ano depois, a doente, internada na Maison Blanche, é laudada como

acometida de debilidade mental. Síndrome alucinatória sem sistema delirante. Sedação. Calma habitual. Inércia e baixa afetiva. Com a condição de vigilância constante, a alta pode ser tentada.

Insiste-se na debilitação afetiva e na persistência do delírio.

Uma outra série de fatos extremamente interessante nos parece constituída pelos casos em que, após um ou mais acessos de delírio subagudo alcoólico aos quais a predominância das alucinações verbais e o pulso normal ou retardado concederam o seu caráter constante, vê-se fixar um delírio baseado em automatismo mental. Acreditamos ver nessa correlação clínica um elemento prognóstico importante e trazer uma precisão na patogenia controversa daquilo que Rogues de Fursac[23] isolou com o nome de “delírio sistematizado alcoólico”. Eis aqui um belíssimo exemplo:

OBSERVAÇÃO VIII. – Louis L., pintor, 50 anos.

É internado uma primeira vez em dezembro de 1930, após ter apresentado, num hospital parisiense, distúrbios caracterizados por “alucinações visuais (zoopsias) e auditivas, uma amnésia considerável, com fabulação discreta e distúrbios do reconhecimento” (Laudo do Dr. Trocmé[24]).

Os laudos de entrada e quinzenais dos psiquiatras que o viram insistem então em cenas oníricas variadas com “zoopsia; alucinações liliputianas. Assassinato da família”, nos sinais manifestos de impregnação alcoólica e sobretudo no elemento auditivo das alucinações.

O doente sai curado do manicômio de Villejuif em 20 de fevereiro do ano seguinte.

Em junho de 1931, ou seja, um ano e meio depois da sua internação, ele se apresenta à delegacia, dizendo que não pararam de lhe dar eletricidade desde a sua primeira estada no hospital. Essa (541) iniciativa foi precedida por uma carta ao médico-chefe do hospital em que ele se queixa de sofrer, desde a primeira estada, com um “torniquete na cabeça, com a eletricidade enviada para a suas costelas; dá tremor nas mãos”. Ele escreve: “Fui lesado, então; os senhores vão me fazer perder meu trabalho; imediatamenti cai no rizo e recomessa; levei testemunhas; seus Citroën de que sou parte por causa da eletricidade que ele me dava nos braços”

O tremor está à vista na escrita. Um de nós examina o sujeito na Enfermaria e reconhece, sob o alcoolismo crônico, um:

Automatismo mental e ideias delirantes de perseguição. Alucinações auditivas. Injúrias e ameaças. “É preciso deixar ele louco”. Alucinações olfativas (odores fecais). Controle e eco do pensamento. Enunciado dos atos e repetição das palavras. Distúrbios cenestésicos. Eletricidade no corpo, formigamento e queimaduras. Alguns elementos visuais. Pobreza das interpretações. Três homens, talvez enfermeiros no Hospital Bichat,[25] querem se vingar dele. Também querem deixar a mulher dele louca.
Alcoolismo comprovado e confesso. Tremor digital e lingual. Hiperalgesia muscular. Pulso: 80.
Um internação anterior. Persistência, após a alta, dos elementos alucinatórios auditivos e dos distúrbios cenestésicos após o desaparecimento da confusão e do estado onírico.

Ass.: Dr. Heuyer.

O último laudo de situação relata a persistência, há um ano, da “psicose alucinatória desenvolvida sobre um fundo de alcoolismo crônico”

OBSERVAÇÃO IX. Antoine B., 63 anos.

Observado há 8 anos no Hospital Henri-Rousselle,[26] apresenta então um alcoolismo crônico inveterado há vinte anos, com ideias de perseguição notadas como assaz particulares. Declara-se “seguido pelo cunhado desde Lyon, de onde ele teria voltado para Paris a pé”. “É”, diz ele, “por uma questão de herança…, estão atrás de mim o tempo todo…, ele me repreende… Sinto a sombra dele atrás de mim… Quis bater nele e o ameacei”.

A postura é inquieta e desconfiada. Obnubilação intelectual. Agitação violenta e perigosa. Gritos. Gesticulação amedrontada etc.

Tremor. Língua saburral, B.-W.[27] + no sangue.

É internado (já é sua segunda internação). Em seguida é liberado e, seis anos depois, em 1931, um de nós o atende na Enfermaria Especial e o interna com o seguinte laudo:

Alcoolismo crônico no limite do estado subagudo. Orientação bastante boa. Pouca confusão. Onirismo. Zoopsia. Visão de precipícios. (542) Alucinações auditivas. Escuta a família repreendendo-o etc. Pulso: 76.

O automatismo mental e a sensação de presença dão uma nota particular ao quadro clínico. Tendência à cronicidade.

Relatamos, por fim:

OBSERVAÇÃO X. – Maximin V., 35 anos de idade. Internado em 6 de abril de 1931 com o seguinte laudo:

Alcoolismo crônico. Ataques subagudos. Estado confusional. Dismnésia.[28] Desorientação. Obtusão. Automatismo mental. Alucinações auditivas muito ativas. Ameaças de morte. Alucinações psíquicas: voz em seu coração que serve de intermediário para as ordens que ele recebe e as ameaças que lhe fazem. Controle e eco do pensamento. Comentário dos atos. Envio de gás. Algumas interpretações pobres. Ideias de envenenamento. Inveja dos vizinhos, que querem fazer com que ele saia do imóvel. Sem alucinações visuais. Os inimigos veem tudo o que ele próprio vê. Distúrbios cenestésicos. Eletricidade. Início recente dos distúrbios psíquicos, bruscamente, há oito dias.
Pediu espontaneamente por proteção na delegacia de polícia. Sem ansiedade, mas recusa alimentos. Insônia. Rosto vultuoso. Tremor mínimo, digital e lingual. Pulso: 64. Antecedentes de desequilíbrio e delinquência.

Dr. G. Heuyer.

Laudo de entrada:

Delírio de perseguição com alucinações e distúrbios da sensibilidade geral. “Querem que ele morra, seu coração fala e sabem o que ele pensa e faz…”. Queixa na delegacia. Segundo as declarações do doente, o seus distúrbios haviam começado há quinze dias, apenas.

Ass.: Dr. Simon.

Transferido com o diagnóstico de “delírio de perseguição com distúrbios psicossensoriais múltiplos. Início recente. Adjuvação etílica”

III

Queremos indicar agora uma categoria de fatos em que o terreno psicopático é caracterizado anteriormente ao abcesso subagudo etílico, que não passa de um episódio. Aqui, mais uma vez, a forma auditiva verbal da alucinação parece ligada à existência de um pulso retardado.

OBSERVAÇÃO XI. – Georges L., montador, estava com 21 anos em 1919, quando internado com o laudo do Dr. Delmas[29] apontando “ideias delirantes e (543) recusa de alimentos”. Nosso colega assinala que o doente, por volta dos dez anos de idade, havia tido crises de epilepsia.

É examinado na entrada pelo Dr. Briand,[30] cujos laudo e observação se seguem:

Laudo de entrada, Dr. Briand:

Delírio melancólico, com ideias de perseguição e culpa. Agitação ansiosa. Negativismo. Epilepsia antiga (?).
O doente parece inquieto e angustiado. Não fica parado (recusa-se a se sentar). Crispações nervosas da face. Gestos desesperados. Só responde com monossílabos, ou diz: “É lamentável (bis).” “Os senhores querem ter minhas respostas para terem o contrário… Fiz minha mãe chorar”. Mussitação[31].
Informações da mãe: pai morto de abcesso no pulmão, alcoólico, sem epilepsia (se embriagava com frequência).
Mãe saudável, quatro filhos, dois vivos.
Muito nervosa durante a gravidez. Parto normal. Criança normal, sem convulsões. Por volta dos 4 ou 6 anos, queixava-se de dores de cabeça. Na sala de aula, por volta dos 4 anos e meio, caráter difícil. Aprendia bem. Aos dez anos, seis semanas depois de uma queda numa escada, à noite, crise de epilepsia confirmada na Salpétrière. Durante 15 meses, uma crise a cada dois meses: “Mamãe, isso vai me pegar”. Crise típica com micção. Dos 11 anos e meio em diante, mais nada disso.
Caráter violento, desde sempre. Fazia um mês que nunca participava das conversas. Ansiedade noturna: (para a mãe) “Não tenha medo, não te quero mal”. Depois, mutismo. Choro. Foge de um médium chamado pela mãe. Manifesta ideias de indignidade. Dromomania[32] na chuva. Recusa de alimentos. Esgotamento há alguns meses.
Não bebe.

Transferido para Vaucluse, é ali considerado um delírio melancólico com “ideias de perseguição e culpa. Alucinações auditivas. Agitação ansiosa. Negativismo. Epilepsia antiga?”. Depois, no mesmo ano, parece se mostrar uma “demência precoce com manifestações paranoides e catatônicas, ecolalia, incontinência urinária noturna; nos antecedentes, crises comiciais[33]”. (Dr. Roubinovitch[34]).

No entanto, ele sai no ano seguinte, considerado pelo Dr. Vurpas[35] como suficientemente melhor. Vive em liberdade durante 20 anos, pouco estável no trabalho, mas ganhando a vida, como parecem testemunhar as diversas comprovações de vínculo empregatício encontradas a seu respeito quando de sua última detenção. Empregado, por último, no centro de aviação de Nanterre. Dispensado por indisciplina, escreve para o Coronel Comandante desse centro inúmeras cartas de ameaça de caráter nitidamente delirante, nas quais ele se queixa particularmente dos “sequestradores, torturadores”. Convocado à delegacia, diz: “Eu (544) protesto contra os raios que me enviam, por que vocês querem impedir a minha barriga de crescer?”

Examinado por um de nós vinte anos depois da primeira internação, apresenta-se da seguinte maneira:

Alcoolismo  crônico.  Estado  confusional.  Obtusão. Desorientação.  Ideias  de perseguição. Há três anos, não querem deixá-lo trabalhar em Paris. Alucinações auditivas. Ameaçam-no de morte. Querem colocá-lo num tubo. Enviam-no raios. Ansiedade, está condenado à morte. Súplicas. Solicita que acabemos com isso agora. Quebra de azulejos em sua residência. Ameaça contra a tia com a qual vive. Tremor digital e lingual. Hiperalgesia muscular. Pulso retardado: 60. Sífilis há 20 anos sem sinal neurológico atual. Já teria sido internado. Bloquear carteira de habilitação, ao menos temporariamente.

Ass.: Dr. Heuyer.

OBSERVAÇÃO XII. – Marius M., 40 anos. Internado em 23 de março de 1929 com o seguinte laudo:

Debilidade mental. Ideias delirantes de grandeza e perseguição. É inspetor da igreja porque recebeu uma gravata branca do seu tio, pároco em Turim. Tem a missão de “limpar o pessoal da igreja”. Em decorrência de suas reclamações, fez com que afastassem um vigário.
Interpretações múltiplas. É vítima da inveja dos vizinhos. Elemento imaginativo megalomaníaco um pouco tolo. Alucinações auditivas episódicas. Injúrias e ameaças. Desordem dos atos. Perturba os ofícios com as suas excentricidades. Gritos. Gesticulação. Hábitos eclesiásticos antigos. Unção. Sinais de alcoolismo crônico. Tremor digital e lingual. Pulso: 72.

Ass.: Dr. Heuyer.

O laudo de entrada do Dr. Marie[36] informa: “debilidade mental, escândalo na igreja para protestar contra a ausência de assistência do vigário aos seus filhos (6 crianças), exagero do eu”. O laudo de alta, de 21 de abril de 1929, declara que ele não delira mais e que a sua família o reivindica.

Retorna a um de nós em 13 de abril de 1931.

Alcoolismo e debilidade mental. Excitação psíquica. Loquacidade incoercível. Gesticulação. Tema de perseguição mal sistematizado. Conspiração contra a sua “paternidade”. Desde que entregou seus filhos para assistência pública, impedem-no de encontrar trabalho. Recriminações, grandiloquência, desordem dos atos. Escândalo na Embaixada da Itália, onde foi reivindicar seus filhos. Tremor digital e lingual. Pulso: 84.

Ass.: Dr. Heuyer.

(545) O laudo de entrada do Dr. Simon informa:

Alucinações e ideias de perseguição e grandeza; seu caso é mundial, uma conspiração para tirar o seu direito paterno; estilo diferenciado entre os marceneiros: seis canelura para lembrar seus seis filhos etc.

Um de nós o examina em Villejuif e encontra o grande delirante imaginativo, megalômano, contra um fundo de debilidade mental indicado pelos laudos. Observam-se algumas das interpretações mórbidas mais importantes, sinalizadas em laudos anteriores, e alucinações auditivas verbais. Ouviu vozes, especialmente na igreja, onde elas lhe diziam: “Cafetão! Fingido! Italiano sujo!”. Era a voz de uma senhora, que “tentava assim diminuir o valor de seu prestígio para sufocar a amizade e a simpatia que, nessa mesma igreja, existiam por mim”. Viva emoção ao evocar esse “estilo maldito que invade o Faubourg St-Antoine, e em que fazem seis caneluras para evocar os seis filhos dele”. Ele os entregou para a assistência pública, mas apesar disso não quer que ataquem os seus direitos de paternidade. Desenvolve ideias de envenenamento. Mantém uma postura mista de superioridade íngreme e de unção eclesiástica. Loquacidade pretensiosa. Fez escândalo em Lourdes, tentativas obstinadas de reconquistar seus filhos. Autoritarismo familiar. Cartas imperativas e pouco coerentes para a mulher e os filhos, repletas de conselhos pueris que pretendem regular as condutas deles nos mínimos detalhes.

Mantido no manicômio até o momento.

OBSERVAÇÃO XIII. – Aqui temos um jovem perverso, dipsomaníaco,[37] que se entrega à intoxicação desde a saída da colônia penitenciária onde o colocaram por furtos diversos.

D.Germain L., 21 anos, internado em 1º de março de 1931:

Alcoolismo crônico. Ataques subagudos. Confusão leve. Orientação imperfeita. Obtusão. Amortecimento. Onirismo. Seguem-no a fim de envenená-lo. Vê a imagem da mãe grudada em sua calça e não consegue tirá-la. Alucinações auditivas. Ameaças. Acusação de ter violado a mãe. Distúrbios cenestésicos. Eletricidade. Tocam seu ombro durante a noite. Rosto vultuoso. Tremor digital e lingual. Pulso: 64. Fundo de debilidade mental e de perversões. Ficou quatro anos na colônia penitenciária para furtos (em Belle-Isle[38]). Saída em 13 de fevereiro. Embriaguezes sucessivas desde a saída.

Ass.: Dr. Heuyer.

Entrada:

Acometido de alcoolismo com alucinações fastidiosas e ideias de perseguição: excitação passageira, leve tremor das mãos. Contusão no olho esquerdo. Saída recente de uma colônia penitenciária.

Ass.: Dr. Simon.

(546) Transferido para Évreux,[39] reduziu, após um ano, os seus fenômenos delirantes. Pulso permaneceu em 60. Fim do tremor. Foge dali a um ano.

São esses os diversos grupos de observações que desejamos relatar.

Para resumir, acreditamos poder fixar os seguintes pontos:

  1. Existem casos de delírio alcoólico subagudo em que o pulso é normal ou retardado. Eles se apresentam de uma forma clínica caracterizada por predominância das alucinações auditivas verbais, uma convicção delirante que se aproxima à dos delírios crônicos, uma maior fixidez dos temas, uma menor ansiedade pantofóbica,[40] uma relativa redução dos fenômenos visuais e motores;
  2. Essa forma é frequentemente marcada por uma forte nota melancólica com ideias de autoacusação e tendências ao suicídio;
  3. Ela pode sarar completamente. Ela pode recidivar na mesma forma. Pode ter uma tendência à cronicidade e merece ser procurada na origem de todos os casos ditos de delírio crônico de origem alcoólica. Por outro lado, a correlação de um pulso retardado não adquire menor valor que a intoxicação alcoólica no determinismo de certas psicoses alucinatórias crônicas;
  4. Em certos estados psicopáticos evolutivos (demência precoce, delírio polimorfo), rajadas delirantes[41] com predominância de alucinações auditivas verbais que parecem condicionadas por uma intoxicação etílica, episódica ou recidivante, apresentam uma notável correlação com um pulso normal ou retardado, e provavelmente encontram, nesse fenômeno, uma outra das suas condições determinantes.

Abstemo-nos atualmente de qualquer consideração ou hipótese patogênica. Um de nós reserva-se comentar ulteriormente esses fatos e outros análogos que serão objeto de apresentações. Podemos dizer somente que essa produção de alucinações auditivas e da síndrome de automatismo mental mais ou menos na íntegra, em correlação com um pulso normal ou retardado, no alcoolismo subagudo, dificilmente permite uma explicação ideogênica.


INFORMAÇÕES ADICIONAIS | Um resumo deste artigo pode ser encontrado em: L’Encéphale, 1934, vol. 29, n. 1, p. 53. O trabalho de Valentin Magnan sobre o alcoolismo, especialmente o uso de absinto, é Étude expérimentale et clinique sur l’alcoolisme, alcool et absinthe; epilepsia absinthique (1871).



[1] Charles Lasègue [1816-1883] foi um médico psiquiatra francês. Depois de estudar filosofia e atuar como professor suplente no liceu Louis-le-Grand, em Paris, começou a estudar medicina com Bénédict Morel [1809-1873] e Claude Bernard [1813-1878], e depois psiquiatria com Jean-Pierre Falret [1794-1870], na Salpêtrière. Tornou-se médico em 1854, passando a ministrar um curso de clínica das doenças mentais em 1862 e, por fim, sendo nomeado professor de clínica médica. Com Henri Legrand du Saule [1830-1886], é responsável pelos atendimentos realizados no Comando de Polícia (a futura Enfermaria Especial), onde é levado a estudar alguns problemas de medicina legal, em particular o da “responsabilidade dos alienados”. Examinando diversos delirantes alcoólicos, entende que o delírio alcoólico não é da mesma natureza que a psicose delirante crônica; para ele,  “não é um delírio, mas um sonho”. (N. do T.)

[2] Ch. Lasègue (1852) “Du délire des persécutions”, Archives Générales de Médecine, vol. 4, n. 28, pp. 129-150. Disponível em: <www.biusante.parisdescartes.fr/histoire/medica>.

[3] Ch. Lasègue (1868-69) “De l’alcoolisme subaigu”, Archives Générales de Médecine, vol. 6, n. 13, pp. 513-536, 656-675 (disponível em: <archive.org/details/BIUSante_90165x1869x13>); n. 14, pp. 145-163 (disponível em: <archive.org/details/BIUSante_90165x1869x14>).

[4] Cf. Ch. Lasègue (1884) Études médicales, vol. 2. Paris: Asselin et Cie., pp. 171-ss., obs. 25, 26, 27. Disponível em: (<gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k77273v>); Ch. Lasègue (1868-69) “De l’alcoolisme subaigu”, Archives Générales de Médecine, vol. 6, n. 13, pp. 513-536, 656-675 (disponível em: <archive.org/details/BIUSante_90165x1869x13>); n. 14, pp. 145-163 (disponível em: <archive.org/details/BIUSante_90165x1869x14>).

[5] Valentin Magnan [1835-1916] foi um psiquiatra francês. Estudou medicina em Lyon e Paris, onde foi aluno de Jean-Pierre Falret [1794-1870] e Jules Baillarger [1809-1890] — discípulos de Jean-Étienne Dominique Esquirol [1772-1840] na Universidade de Paris. De 1867 até o fim de sua carreira, manteve-se vinculado ao Hôpital Sainte-Anne. É conhecido por expandir o conceito de degeneração introduzido por Bénédict Morel [1809-1873] na psiquiatria. Acreditava que o consumo excessivo de álcool — particularmente absinto — tinha um papel importante no declínio da cultura francesa. Em suas investigações sobre a bebida, tentou identificar um “efeito absinto” que não estava presente em outras formas de alcoolismo, e sugeriu que o delírio a ele associado era diferente das experiências de delirium tremens associadas ao alcoolismo. (N. do T.)

[6] Prêmio concedido pela Academia Nacional de Medicina (França). (N. do T.)

[7] Trata-se de “Des diverses formes des délires alcooliques et de leur traitement” (1872), posteriormente publicado como livro: V. Magnan (1874) De l’alcoolisme: des diverses formes du délire alcoolique et de leur traitement. Paris: Delahaye. (N. do T.)

[8] Quadro patológico caracterizado por tremores, suores, agitação e alucinações, geralmente resultante do consumo de álcool prolongado e excessivo. (N. do T.)

[9] Médico e professor da Faculdade de Medicina de Paris, Georges Heuyer [1884-1977] foi membro da Academia Nacional de Medicina. É considerado o fundador, na França, da pedopsiquiatria — especialidade que praticou por mais de 50 anos, em diversas instituições parisienses, especialmente na Salpêtrière. Tendo iniciado seus externato e internato em 1906, defenderia sua tese de doutorado em medicina no ano de 1914, sob a orientação de Ernest Dupré [1862-1921], que havia sido aluno de Jean Martin Charcot [1825-1893]. Entrando para o exército em 1904, trabalhou como médico militar durante 15 anos. Foi nomeado chefe clínico ajunto de doenças mentais na Faculdade, em 1919, passando a titular em 1921 (cargo que abandonará no ano seguinte). Em paralelo, atua como médico da Enfermaria Especial de Alienados do Comando de Polícia e como médico-inspetor escolar. Em 1922, em colaboração com Édouard Toulouse [1865-1947], idealiza a criação de um serviço livre de higiene mental, futuro Hospital Henri Rousselle (parte do complexo hospitalar Sainte-Anne desde 1941). Em 1923, torna-se médico hospitalar e cria, dois anos depois, um ambulatório que se tornará um serviço de atendimento psiquiátrico infantojuvenil, comportando a sede da Clínica Anexa de Neuropsiquiatria Infantil, também por ele criada. Em 1937, em Paris, organizará aquele que será o 1º Congresso Internacional de Psiquiatria Infantil. (N. do T.)

[10] O Centro Hospitalar Sainte-Anne foi edificado num local com vocação assistencial desde o século XIII. Em seguida à Casa de Saúde de Margarida da Provença, esposa de Luís IX; e então, ao Sanitat Saint-Marcel, no século XV (destinado aos doentes por contágio), Ana de Áustria ordenou a construção, por volta de 1650, de um hospital que receberia o nome de Sainte-Anne [Sant’Ana]. Pouco utilizado num primeiro momento, o local foi transformado numa espécie de fazenda onde iam trabalhar os alienados do Hospital de Bicêtre, que ficava relativamente próximo. Em 1863, no entanto, Napoleão III decide criar ali um hospital psiquiátrico, designado por ele próprio como “asilo clínico”, uma vez que se destinaria a ser um local de tratamento, de pesquisa e de ensino. O manicômio  é inaugurado no primeiro dia do ano de 1867, e seu primeiro paciente dará entrada em 1º de maio. Em 1922, havia sido criado ali, por Édouard Toulouse [1865-1947], um centro de profilaxia mental: o primeiro serviço livre, isto é, no qual os doentes não ficam internados. (N. do T.)

[11] O Asilo de Alienados de Villejuif — rebatizado como Hospital Psiquiátrico de Villejuif, em 1937, e atualmente conhecido como Grupo Hospitalar Paul Guiraud — começou a receber seus primeiros pacientes em abril de 1884. (N. do T.)

[12] Théodore Simon [1873-1961] foi um psiquiatra francês que fez carreira como médico de instituições manicomiais, trabalhando no Serviço de Entrada de Sainte-Anne. Entre 1936 e 1937, atuou como diretor do hospital Henri Rousselle, em Paris. É conhecido sobretudo por sua contribuição para a criação, com Alfred Binet [1857-1911], de uma escala métrica que leva o nome de ambos: a Escala de Inteligência Binet-Simon, publicada pela primeira vez em 1905. Foi presidente da Sociedade Médico-Psicológica, em 1935, e criador da Revista Laboratoire et psychiatrie, em 1937.  (N. do T.)

[13] Maurice Ducosté [1785-1956], psiquiatra francês, foi aluno de Emmanuel Régis [1855-1918], em Bordeaux; de Édouard Toulouse [1865-1947] e Auguste Marie [1865-1934], em Villejuif; de Marandon de Montyel [1816-1893] e Paul Sérieux [1864-1947] em Ville-Évrard. Inicia sua carreira profissional no manicômio público de Bassens (Savoie), passando por outro lugares até substituir Joseph Capgras [1873-1950] na Casa de Saúde de Ville-Évrard, instituição que chefiará em 1920. Encerra sua carreira em Villejuif no ano de 1937. (N. do T.)

[14] Hospital parisiense cuja construção começa em 1870, a instituição abre suas portas no ano de 1878, com o nome de Hospital de Ménilmontant. É no ano seguinte que recebe o nome do cirurgião Jacques Tenon [1724-1816], que possui até os dias de hoje. (N. do T.)

[15] Diminuição, mais ou menos acentuada, da permeabilidade mental e da consciência. (N. do T.)

[16] Ville-Évrard é um hospital especializado em saúde mental. Em 1868, o governo inaugurou na região de mesmo nome, em Neuilly-sur-Marne (antigamente, Seine-et-Oise), um primeiro manicômio destinado aos alienados indigentes do Leste de Paris; depois, em 1875, uma casa de saúde para pacientes mais abastados. O manicômio, a casa de saúde e extensões posteriormente construídas viriam a constituir o estabelecimento público de saúde de Ville-Évrard. (N. do T.)

[17] Faces e lábios vermelhos e inchados, olhos salientes. (N. do T.)

[18] Provavelmente, “transmissão sem-fio”. (N. do T.)

[19] Subintrantes são sintomas ou acessos que se iniciam antes de os anteriores terminarem. (N. do T.)

[20] Gaëtan Gatian de Clérambault [1872-1934] é considerado, por muitos, o último e mais brilhante dos clássicos. Obteve, em 1905, o cargo de médico adjunto da Enfermaria Especial do Comando de Polícia, onde já era interno de Paul-Émile Garnier [1848-1905]. Com a morte de Ernest Dupré [1862-1921], que havia sido seu professor, torna-se médico-chefe da instituição. Lacan o considerava seu “único mestre em psiquiatria” (cf. C. M. Ramos Ferreira; J. Santiago [2014] Apresentação de pacientes: Clérambault, mestre de Lacan. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, vol. 17, n. 2. São Paulo, junho de 2014. Disponível em: <dx.doi.org/10.1590/1984-0381v17n2a05>). Ademais, cumpre notar que Clérambault entendeu o presente artigo como sendo uma divulgação não autorizada das suas próprias ideias a respeito da paranoia, de modo que Lacan suprimirá o texto quando da reedição de sua tese de doutorado, onde figurarão outros de seus “Primeiros escritos sobre a paranoia”. (N. do T.)

[21] O manicômio de Perray-Vaucluse, situado no atual distrito francês de Essonne, é o terceiro manicômio do antigo distrito do Sena. Foi inaugurado no ano de 1869, depois de Sainte-Anne (1867) e de Ville-Évrard (1868). Desde 2019, Sainte-Anne, Maison Blanche e Perray-Vaucluse encontram-se unificados sob a rubrica GHU Paris (Groupe Hospitalier Universitaire de psychiatrie & neurosciences). Cf. <www.ghu-paris.fr/fr/le-ghu-paris-fruit-dune-histoire-commune>. (N. do T.)

[22] Disendocrinia é a perturbação no funcionamento das glândulas endócrinas. (N. do T.)

[23] Joseph Rogues de Fursac [1872-1941], psiquiatra francês, defendeu em 1899 uma tese sobre paralisia geral intitulada Des stigmates physiques de dégénérescence chez les paralytiques généraux, depois de realizar estudos no laboratório de Charles Richet [1850-1935]. Volta-se para a psiquiatria, assumindo um posto de médico-adjunto em Clermont de l’Oise, depois em Ville-Évrard, e atuando como chefe nas alas femininas do manicômio de Villejuif. (N. do T.)

[24] Charles Trocmé [?-?] . (N. do T.)

[25] Um primeiro hospital, na qualidade de estabelecimento temporário, foi implantado em 1884 numa antiga caserna que data de 1860, situada no Muro de Thiers, em Paris. Ele recebe o nome de Hospital Bichat, em memória do médico e fisiologista Xavier Bichat [1771-1802]. Em 1928, o hospital é inteiramente reconstruído. (N. do T.)

[26] O Hospital Henri-Rousselle — nascido do Centro de Psiquiatria e Profilaxia Mental, idealizado por Édouard Toulouse [1865-1947] e Georges Heuyer [1884-1977] — faz parte, hoje, do complexo hospitalar Sainte-Anne, após ter perdido sua autonomia em 1941. (N. do T.)

[27] Levando os nomes de Jules Bordet [1870-1961] — Nobel de fisiologia e medicina em 1919, por sua descoberta do bacilo da coqueluche — e August Paul von Wassermann [1866-1925] — um bacteriologista alemão —, a reação Bordet-Wasserman trata-se de uma reação de hemólise (dissolução dos glóbulos vermelhos) que foi desenvolvida por Wassermann em 1906, não sem reconhecer a importância de achados anteriores realizados por outros cientistas, dentre eles Jules Bordet. Consistia essencialmente em pôr frente a frente o antígeno, um complemento e o soro suspeito de conter o anticorpo sifilítico, permitindo detectar precocemente um anticorpo não específico contra a sífilis (a anticardiolipina), garantindo a intervenção medicamentosa precoce. Cf. E. Gonçalvez (1926) Sobre a sero-reacção de Bordet-Wasserman. Porto: Enciclopédia portuguesa. Disponível em:  <repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/17673/2/221_2_FMP_TD_I_01_C.pdf>. (N. do T.)

[28] Distúrbio da memória que se manifesta pela dificuldade de evocar lembranças. (N. do T.)

[29] Jean Delmas [?-?], que atuou como médico-chefe de clínica das doenças mentais, foi diretor da casa de saúde de Ivry-sur-Seine. É autor de Les psychoses post-oniriques (Paris: Masson, 1914). (N. do T.)

[30] Marcel Briand [1853-1927] foi o primeiro médico à frente da divisão das mulheres do manicômio de Villejuif, antes de suceder em 1912 o seu mestre Valentin Magnan [1835-1916] como médico-chefe do Serviço de Entrada de Sainte-Anne — posto que ocupará até aposentar-se, em 1922. (N. do T.)

[31] Movimento dos lábios com emissão de sons não articulados. (N. do T.)

[32] Impulso incontrolável e mórbido de perambular. (N. do T.)

[33] Do latim, morbus comitialis — designação dada pelos romanos à epilepsia. (N. do T.)

[34] Jacques Roubinovitch [1862-1950]. (N. do T.)

[35] Claude Vurpas [1875-1951] fez sua residência médica em Villejuif. Colaborando diversas vezes com o psicólogo romeno Nicolae Vaschide [1874-1907], é responsável por uma série de publicações em coautoria com o colega; dentre elas, Psychologie du délire dans les troubles psychopathiques (Paris: Masson, 1902), em que se concebe o delírio não como uma síndrome especial, mas apenas “a eflorescência de uma atividade psicológica subconsciente que existe, no mesmo grau, em seus elementos fundamentais, no estado normal e no estado mórbido” (p. 171). Foi presidente da Sociedade Francesa de Psicologia em 1937. (N. do T.)

[36] Auguste Marie [1865-1934], psiquiatra, higienista e filantropo francês, defendeu sua tese de doutorado sobre o tema dos delírios sistematizados, em 1892. Naquele mesmo ano, iniciaria sua carreira como médico-adjunto em instituições de saúde mental. Clinicou no manicômio de  Villejuif até ser designado para atuar em Sainte-Anne como médico-chefe de consultas externas em 1920 e, no ano seguinte, como chefe da divisão masculina. (N. do T.)

[37] Referente a “dipsomania”, a necessidade incontrolável de ingerir bebiba alcoólica. (N. do T.)

[38] Colônia marítima para menores infratores criada em 1880, na ilha de Belle-Île-en-Mer, situada na Bretanha. (N. do T.)

[39] Situado na Normandia, o asilo de alienados de Évreux havia sido inaugurado em 1866. (N. do T.)

[40] Relativo a pantofobia, temor mórbido de um mal desconhecido. (N. do T.)

[40] Termo introduzido em 1886 por Paul Maurice Legrain [1860-1939] e promovido por Valentin Magnan [1835-1916], a “baforada”, “lufada” ou “rajada delirante” [bouffée delirante] consiste numa condição psicótica aguda e transitória associada com turvação da consciência, excitação psicomotora e comportamento agitado, seguida de amnésia anterógrada. (N. do T.)

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Sobre o Autor

Escrito por

Linguista e tradutor, exerce a psicanálise na cidade de São Paulo. Bacharel e doutor em linguística pelo IEL-Unicamp, realizou pós-doutoramento no Depto. de Ciência da Literatura da UFRJ. Atuou como professor-associado junto ao Depto. de Língua Romena e Linguística Geral da Universidade Alexandru Ioan Cuza (Iaşi, 2009) e foi tradutor residente do Instituto Cultural Romeno (Bucareste, 2013). Organiza a coletânea “A psicanálise e os lestes” (Ed. Annablume) e é um dos editores da Revista Lacuna (www.revistalacuna.com).