04.06.1928 | Carta a Ferdinand Alquié

Lettre à Ferdinand Alquié du 4 juin 1928 ]

Inédito.

 

Meu caro amigo,

Gostaria de conceder à sua carta da semana passada uma resposta digna do vivo interesse que por ela tive.  É a isso, e à impossibilidade de encontrar em minha semana o mais ínfimo tempo livre — não à negligência ou à preguiça —, que o senhor deve… o meu silêncio.

Queira desculpar-me. Acaso gostaria de vir jantar comigo no quarto de plantão no Hôtel-Dieu[1] amanhã — terça — à noite? Podemos nos encontrar 7 e meia, quarto 3.

Prosearemos sobre tudo isso. Caso, para meu grande pesar, o senhor não possa, considero escrever-lhe sobre esse surrealismo pelo qual, ainda que não tenha o mesmo lugar que para vocês,[2] decerto tenho muita consideração em meus pensamentos atuais.

Muito amigavelmente seu,

     Jacques Lacan

4 de junho de 1928

 


[1] Fundado em 651, o Hôtel-Dieu de Paris é o hospital mais antigo da capital. Após sucessivas reconstruções, suas instalações atuais remontam ao século XIX. (N. do T.)
[2] Filósofo e escritor, F. Alquié [1906-1985] — que orientaria Gilles Deleuze [1925-1995] em sua tese complementar de doutorado, intitulada Spinoza e o problema da expressão (1968) — tinha o surrealismo como uma das principais áreas de interesse, publicando Philosophie du surréalisme (Paris: Flammarion) em 1955. (N. do T.)

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Sobre o Autor

Escrito por

Linguista e tradutor, exerce a psicanálise na cidade de São Paulo. Bacharel e doutor em linguística pelo IEL-Unicamp, realizou pós-doutoramento no Depto. de Ciência da Literatura da UFRJ. Atuou como professor-associado junto ao Depto. de Língua Romena e Linguística Geral da Universidade Alexandru Ioan Cuza (Iaşi, 2009) e foi tradutor residente do Instituto Cultural Romeno (Bucareste, 2013). Organiza a coletânea “A psicanálise e os lestes” (Ed. Annablume) e é um dos editores da Revista Lacuna (www.revistalacuna.com).